Sem surpresa, verificamos um aumento dos casos de covid-19 com consequência sobre a capacidade de resposta dos hospitais. São já mais de 3200 doentes internados em enfermaria e mais de 500 doentes em unidades de cuidados intensivos.
Desde o início do mês de novembro, publicamos estimativas semanais das necessidades em internamento com base em dois cenários: um otimista (redução do Rt em 2%) e outro pessimista (aumento do Rt em 2%). Como tememos, fruto do aumento de contactos durante as festividades, a tendência de novas infeções alterou-se, ultrapassando em muito o cenário pessimista. Suspeitamos que o número de profissionais necessário para garantir o mínimo de qualidade se mantenha abaixo do estimado, quanto mais do necessário. Aliás, tal como o número de rastreadores de contactos que não possibilita um cumprimento efetivo da estratégia “identificar, testar, isolar”.
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Nos próximos dias, continuaremos a observar o crescimento do número de casos, e demasiadas instituições terão graves limitações para garantir a qualidade mínima de resposta aos doentes covid-19. Esperemos que as estruturas regionais de saúde tenham aprendido com os erros da primeira e segunda vaga e sejam capazes de garantir a necessária coordenação entre hospitais.
Ao mesmo tempo, decorre uma pandemia silenciosa – de longe não merece a mesma atenção de todos nós. Ao nível do acesso e qualidade de cuidados, o SNS responde com graves dificuldades e omissões aos doentes não covid-19. Uma tempestade perfeita, se considerarmos ainda os efeitos da crise social sobre a saúde da população. É esperado um retrocesso de muitos indicadores de saúde – particularmente, em doenças crónicas.
Os profissionais de saúde lidam com ambas as pandemias, e estão exaustos. A prioridade de vacinação a estes profissionais possibilitou uma nova motivação, mas foi sol de pouca dura.
Vivemos a terceira vaga, e aprendemos pouco com as anteriores.
#Hoje é a minha crónica semanal publicada no Jornal de Notícias às quartas-feiras.
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