O desenvolvimento do sistema de saúde português padeceu, como tantos outros, do excessivo paternalismo e sobrecentralização nas estruturas de cuidados de saúde. Porventura, parte do nosso fracasso na resposta à pandemia covid-19 reside também nestas duas questões.
No início do mês de dezembro, um colega espanhol enviou-me uma edição da revista do El Mundo para a qual tinha sido entrevistado: “nos tratam como niños, y nosotros tan contentos”. A infantilização da sociedade – “o SNS vai tratar de todos, está tudo bem, são apenas as ondas de calor, já temos vacinas” – promove a desresponsabilização individual. Vejam-se os miúdos mais traquinas a lutar pelos primeiros rebuçados – digam-se vacinas. Mesmo face aos terríveis indicadores de mortalidade, não é assim estranho ver, ao primeiro raio de sol, os ajuntamentos de pessoas sem qualquer proteção.
Passado um ano, a incapacidade para ter um mínimo dispositivo de rastreio de contactos e testagem demonstra a nossa dificuldade em fazer mais que a ordem convencionada. Tal como face à sempre esquecida prevenção, o sistema tende a focar-se exclusivamente nas estruturas de cura.
Na passada semana, o Governo Britânico apresentou, ao seu parlamento, o livro branco “Integração e Inovação – trabalhando juntos para melhorar a saúde e a assistência social para todos”. A questão não é nova, mas em plena pandemia, são estes sinais que nos dão esperança. São estas discussões que engajam os cidadãos e iluminam o nosso futuro.
Não são os milhões do plano de recuperação e resiliência que nos irão tornar melhores. São as pessoas, as suas ideias, e uma visão que as una. Como dizia o meu colega espanhol: Se o Estado quer envolver a Sociedade, o primeiro que tem a fazer é conceber-nos como pessoas adultas.
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