Num país empobrecido pelo “amiguismo”, pelo “chico-espertismo”, pelos “conhecimentos” e pelas “cunhas”, daríamos um sinal de desenvolvimento cívico em respeitarmos o outro – (esta frase inicial é parte da minha crónica de 27 de dezembro em que saudei o início do processo de vacinação, com a vã esperança que soubéssemos respeitar o próximo. Pelo menos que, tivessem sido implementados mecanismos que minimizassem o risco).
Em oposição ao papel dos profissionais de saúde, a sucessão de casos de violação das prioridades de vacinação são o retrato de uma sociedade centrada em interesses individuais em detrimento do bem comum. Pior, sem demonstração de qualquer sinal de arrependimento, procuram-se mil desculpas para justificar a transgressão. Como lhe competia, o Ministério da Saúde repudiou os casos em abstrato e avisou que a inspeção iria atuar. Não basta.
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Um bem público é um bem ou serviço disponibilizado a todos os membros de uma sociedade, geralmente gerido pelo Estado. Numa democracia elegemos os membros dos vários níveis de governo. Infelizmente, alguns dos eleitos acreditam ter o direito de usufruir dos bens e nomear amigos, familiares ou “compagnons de route” para lugares da administração pública. Muitos acreditam que os bens públicos estão à sua disposição e bel-prazer. Daí, acham-se no direito de ultrapassar as regras, violar a lei, e encontrar razões particulares para vacinarem os seus, a quem devem favores ou, mesmo, o próprio lugar.
No SNS existem milhares de profissionais, em contacto com doentes, ainda por vacinar. Existem outros milhares de concidadãos de risco por vacinar.
Não cabe a administradores hospitalares, gestores públicos ou dirigentes decidir quem é vacinado. Compete-lhes aplicar as regras estabelecidas. Se não sabem, cabe à Ministra da Saúde apontar-lhes a porta pequena.
#Hoje é a minha crónica semanal publicada no Jornal de Notícias às quartas-feiras.
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