Eu sou de uma geração que nunca conheceu o efeito devastador das doenças infecciosas. Bastaria ter nascido em outras latitudes ou longitudes para sentir o seu impacto sobre a vulnerável condição humana. Apesar das melhorias observadas em países de baixo rendimento, a maioria das causas de morte continua associada a doenças transmissíveis.
Ao mesmo tempo, nas sociedades privilegiadas, verificámos o surgimento de movimentos antivacinas. Não será, pois, de estranhar que, mesmo num contexto de crise sanitária, venha a existir hesitação vacinal, seja por complacência, conveniência ou falta de confiança. Algo que, certamente, a autoridade de saúde procurará mitigar.
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Para a maioria de nós, observar a administração das primeiras vacinas é um momento marcante das nossas vidas. Depois de meses de extrema perturbação, não podemos deixar de sentir esta nova luz e aspirar a momentos que apenas guardamos em memória. Contudo, é necessário conter o excesso de otimismo.
Nos hospitais e centros de saúde, temos meses bastante difíceis pela frente. A pressão sobre as estruturas de saúde continua a níveis limite e não existem respostas adequadas para os doentes não covid ou para assegurar um efetivo rastreio de contactos. Muitos dos profissionais estão esgotados e sentem-se abandonados pela falta de uma estratégia de recursos humanos.
A crise sanitária redundou numa crise económica, o que aumentará as necessidades em saúde. A crise económica redundará numa maior restrição fiscal, o que prejudicará o reforço do serviço público de saúde.
Por mais que nos custe. Por mais que precisemos de uma merecida pausa. Os desafios estão longe de estar ultrapassados. E o vírus não tem intenções de dar tréguas.
#Hoje é a minha crónica semanal publicada no Jornal de Notícias às quartas-feiras.
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